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29 de mar. de 2013

Sociedade brasileira e suas desigualdades

A poucos metros de distância, a favela e o condomínio fechado com piscina em cada apartamento. Foto registrada no RJ, mas poderia ser em qualquer outra cidade brasileira.

Essa entrevista é simples e direta: analisa a sociedade brasileira.
Apesar de ser uma entrevista curta com o professor Jessé Souza, ela traz informações e pontos de vista interessantes sobre as diferenças sociais no Brasil.
O texto foi retirado daqui.


Professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, Jessé Souza estuda classes sociais há 20 anos e defende o uso de critérios além da renda. Na sua opinião, fenômeno recente foi a ascensão de uma ‘nova classe trabalhadora precarizada’

A sociedade brasileira é perversa?
Sim, porque o nível de desigualdade é enorme. O banqueiro na Avenida Paulista ganhar 500 vezes mais do que a pessoa que limpa a sua sala não é normal. E nós convivemos com essa perversão de forma muito natural e ainda temos esse mito brasileiro de que somos muito gentis.

O senhor discorda que exista uma nova classe média brasileira?
Este conceito está inserido na cegueira de pensar que as classes sociais se reproduzem apenas no capital econômico, quando a parte mais importante não tem a ver com isso, mas com o capital cultural, com tudo aquilo que a gente incorpora desde a mais tenra idade.

Quais são as classes sociais do Brasil?
Basicamente, quatro. A alta, que tem capital econômico. Tem a classe média, que não é tão privilegiada quanto a alta, mas se apropria de um capital cultural valorizado, saber científico, pós-graduação, línguas estrangeiras, um conhecimento que tem valor econômico. Essas duas são as classes do privilégio. Para a classe alta, o mais importante é o capital econômico, embora o capital cultural tenha uma função. E, para a classe média, o que prevalece é o capital cultural, embora algum capital econômico também seja necessário.

Quais são as classes “sem privilégios”?
As classes populares não têm acesso privilegiado a capital econômico, nem cultural nem social, não vão ter acesso a pessoas importantes. Têm que trabalhar desde cedo, são batalhadores. É essa a nova classe trabalhadora precarizada (chamada pelos economistas de “nova classe média”). Ela foi incluída porque tem um lugar no mercado, tem renda, planos e consumo de longo prazo, mas isso não a torna classe média. A outra classe “sem privilégios” são os muito pobres, que não têm nem precondição para aprender, a quem chamamos de maneira provocativa de ralé. Para as classes média e alta, é bom que exista a ralé, porque assim podem desfrutar de serviços que a classe média europeia e americana já não têm, como alguém para fazer a comida, cuidar dos filhos. É a luta de classes invisível, tipicamente brasileira.

Luta de classes?
As classes do privilégio economizam um tempo importante para estudo ou para um trabalho mais rentável, enquanto a ralé limpa sua casa, faz sua comida. Luta de classe é uma classe roubar tempo de outra. Quando a empregada deixa o almoço do filho da patroa pronto para ele estudar inglês em vez de preparar sua própria comida, esse jovem ou criança está usando seu tempo para reproduzir seu capital cultural. E a empregada, usando seu tempo para repetir sua condição social.

E por que haveria essa necessidade de inflar a classe média?
Porque é bom ser classe média. Ela inclui a noção indivíduos que são livres, são consumidores, cidadãos. Condensa os sonhos de ascensão social. Pertencer à classe média tem um efeito de distinção, como comprar um carro bacana, uma casa bonita.

O critério de renda não é importante?
É preciso estar atento às outras condições que formam um ser humano. Por exemplo, toda pessoa precisa ter confiança em si mesma. O filho da classe média pode se dedicar só ao estudo, é preparado desde cedo para ser vencedor. O filho da ralé já chega na escola como perdedor e a escola não é solução para tudo. Na nossa pesquisa, o que vimos não é que não tinha escola, mas as pessoas diziam: “nós ficamos fitando o quadro negro horas e horas sem poder aprender”. Se as pessoas não receberem os estímulos anteriores, a escola sozinha não vai resolver.

14 de mar. de 2013

Cidadania e Música

O ano de 2013 é o meu ano de estreia na docência. Depois de muito estágio, chegou a hora de encarar um ano de aulas e convivências com professores e alunos. Veremos o que dará!

Preparei essa aula sobre Cidadania baseada em duas músicas: "Até Quando?", do Gabriel O Pensador, e "Admirável Gado Novo", do Zé Ramalho. A ideia era contrastar essas duas letras e discutir com os alunos alguns pontos.

Eis o clipe da música do Gabriel (o clipe por si já dá uma boa discussão entre "o da poltrona" e o "questionador"):


Depois coloquei a música do Zé Ramalho. Como não há clipe sobre essa música feito pelo cantor, mostrei a capa do LP que trouxe pela primeira vez essa letra:


Os pontos que foram destacados levavam em consideração a diferença de tempo entre as duas letras. A música "Até Quando?" foi lançada em 2001 (nota: os alunos ainda não tinham visto o clipe, só alguns haviam escutado a música) e "Admirável Gado Novo" em 1980. Épocas distintas da história brasileira. A questão do eu-lírico também foi comentada, o eu-lírico do "Até Quando?" é mais revoltado, questionador e pretende ter uma posição de combate as injustiças e questiona os demais "Até quando você vai levando porrada?". Já o eu-lírico do "Admirável Gado Novo" é contemplativo, vê que a situação não está boa, mas não questiona a sua mudança. Visualiza que a engrenagem "já sente a ferrugem lhe comer" e conclui que "povo marcado e povo feliz".

Há mais questões que foram discutidas em sala de aula, porém para começar os argumentos eram esses.