Pois quando pensamos em escola e principalmente em escolas públicas, vem a nossa cabeça um tsunami de problemas, dificuldades, desaforos, trabalho e descasos. Sim, realmente existe esse "caos" educativo e o objetivo aqui não é discordar disso. Entretanto, dizem que todo o "caos" é criativo e em meio a esse turbilhão há momentos e situações positivas que merecem ser relatadas, comentadas e divulgadas por aí.
É necessário uma posição diante das dificuldades, mas eu prefiro começar falando do que está dando certo para depois reivindicar e rever o que está errado. Relembrando, mais uma vez, que é somente a minha opinião, não quer dizer que é "a verdade" ou "a correta".
A partir disso, vou apresentar algumas produções textuais dos discentes do terceiro ano do Ensino Médio de uma escola pública de Porto Alegre que merecem ser destacadas. Adianto que as produções foram cedidas pelos autores e que realmente merecem a leitura.
O tema da redação era o seguinte: "Gonçalves é um angolano nascido
em Luanda que veio para o Brasil passar as férias. Além da curiosidade por
conhecer as paisagens brasileiras, Gonçalves queria conhecer mais sobre a
escravidão que aconteceu aqui. Como boa parte dos escravos que aportaram para o
Brasil vieram de Angola, Gonçalves queria entender o que aconteceu com seus
antepassados depois que eles atravessaram o Oceano Atlântico.
Você
é muito amigo(a) do angolano e sabe que ele está vindo para o Brasil. Escreva um texto relatando como tu
contarias esse passado escravista brasileiro para o Gonçalves, onde você
poderia levar ele, qual a influência dos africanos no país. Além de contar um
pouco sobre esses 300 anos de regime escravista, é necessário comentar sobre a
situação dos afrodescendentes atualmente. Como ficaram os escravos depois da
abolição? Qual a situação dos negros hoje em dia no nosso país?"
A primeira redação a ser publicada é da aluna Gabriela da Rosa Neto:
Ao desfrutar os cocais do litoral, as praias de Copacabana,
as matas amazônicas, e o frio gaúcho, você perceberá que não há outro lugar
como o Brasil, um país cheio de corrupção política, um país onde a população se
preocupa com as novelas da Globo, e com coisas que não fazem sentido e esqueçam
que na vida real ainda há pessoas passando fome e falta de educação e hospitais,
mas além de todos esses desastres culturais, um dos aspectos mais polêmicos é justamente
a questão do negro em relação ao resto da população, é um fato historicamente triste
que atinge uma boa parte da população.
O Brasil é um país de miscigenações, onde os índios nativos
se escondem, os negros ainda sofrem influências do passado e o branco (colono)
sempre se apodera de tudo, os costumes e conceitos etnocêntricos não mudaram
muito hoje em dia, em pleno século XXI. No Brasil os “negros” ou “afrodescendentes”,
possuem baixas condições econômicas, onde um suposto negro pós-graduado com
mestrado e doutorado, muitas vezes ganha uma porcentagem inferior que a de um
homem branco que trabalha na mesma área, mas não precisou se esforçar tanto
para garantir sucesso na vida, a situação só piora para as mulheres negras,
tendo uma porcentagem ainda menor em relação ao salário do homem negro, do
homem branco e até mesmo da mulher branca, – quanto a isso, meu amigo
Gonçalves, podemos dizer que não será nada fácil pra você, – pois ainda há um
notável preconceito no mercado de trabalho, quanto a questão genérica ou étnica.
Na região Sul do Brasil não há muita descendência negra, é
uma etnia mais habitada para o litoral Norte e Nordeste do Brasil, pois na
época da escravidão era mais fácil transportá-los dos navios negreiros chegados
da África para o litoral do Brasil. A Bahia era o estado que mais produzia
cacau na época, e era a região que mais havia escravos para produzir mais cacau
e vender ao exterior, mais fluentemente entre a época do Brasil Colônia ao Imperialismo
de Dom João VI, que foi uma época bastante conturbada para quem nasceu na
África, até porque era abundante o comércio de escravos, estes eram vendidos
como produtos e mão de obras baratas.
A Abolição da Escravidão, em 1888, e consequentemente a
Proclamação da República, em 1889, não adiantaram de nada para as condições de
quem trabalhava para “senhores de engenho”, muitos deles já não tinham oportunidades
de emprego e não tinham como se sustentar, portanto, estes se acolheram em
cortiços e morros, dando início a uma serie do que viria a ser a pobreza do
negro hoje em dia, por isso a maioria, ainda hoje mora em vilas e têm mínimas
condições econômicas, outros poucos se contentaram com o sistema, foram à luta
e conseguiram mudar de vida econômica.
Ainda durante o século XX, foi uma época difícil para quem
nasceu negro, pois ainda havia preconceitos e insultos, na década de 1950
algumas famílias negras ainda trabalhavam nas casas de pessoas brancas, mas
isso não era visto como escravidão, pois essas famílias sustentavam os filhos
dos trabalhadores e ainda davam um troquinho pela recompensa. Mas na década de
1980 foi legalizada uma lei, dizendo que era crime discriminar uma pessoa pela
aparência externa, ou mais precisamente, descriminar um negro pela cor da pele
ou pelas condições de vida. E por lei é permitido que todo o ser humano, seja
lá qual etnia for, deve ser tratado como um cidadão, com direitos iguais, como
todos os demais, pensando nisso, o sistema resolveu concretizar as Cotas
Raciais nas Universidades, já que poucos têm condições de pagar para estudar em
universidades públicas ou federais, enquanto outros têm que trabalhar muito
para pagar os estudos, embora essa política não sirva somente para os negros,
pois não adianta nada um negro ter estudado o ensino médio inteiro em escola
particular, esse sistema vale para quem estudou durante todo o ensino médio em
escola pública e que tenha uma renda média per capita de um salário mínimo.
Hoje em dia ainda é permitido dançar e lutar Capoeira pelas
ruas, antes quem fizesse tais amostragens era condenado a no mínimo seis meses
de cadeia, isso é um absurdo, mas depois da abolição da escravidão, da República
Velha, e durante a década de 30, Vargas havia visto uma dessas danças e achou
muito bom, então ele legalizou para que fosse possível dançar capoeira
livremente na rua, também tem o Carnaval, criada e incentivada pelos negros na
mesma época.
Conclui-se que o negro é a cara do Brasil, é a etnia que fez
o Brasil ser o que é hoje, em questão de produção e em questões culturais. Mas
o Brasil negro se esconde atrás da cara branca, ou seja, a população brasileira
não se espelha na África, na verdade, o brasileiro se influencia com os
costumes europeus.