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16 de out. de 2013

Arquivos da Cidade

Para visualizar o documentário, clique nesse link: http://www.youtube.com/watch?v=nIIma7ZtSPY

Informações sobre o documentário:
Diretores: Felipe Diniz e Luciana Knijnik
Ano: 2009
Depoimentos:
Antonio Losada;
Lino Brum Filho;
Carlos de Ré;
Gregório Mendonça;
Ignez Serpa Ramminger;
Bona Garcia.

Esse documentário proporciona uma boa aula de história sobre a Ditadura Civil-Militar Brasileira. A começar pelo nome “Arquivos da Cidade”: são seis pessoas, seis memórias, seis depoimentos, seis arquivos de seis diferentes experiências de quem lutou contra a ditadura em Porto Alegre. Os arquivos aqui não remetem a papeis e documentos antigos, mas se referem a diferentes pessoas: estudantes, líderes sindicais, familiares de desaparecidos, que viveram este período da história nacional e tem muito que contar de suas vivências.

Antes de continuar o texto sobre o documentário, uma ressalva teórica: memória não é história. Lembrar um evento ocorrido anos atrás não quer dizer que se está escrevendo “A” história do período. A memória é um mosaico que se faz e refaz a todo instante, dependendo do momento em que é solicitada a lembrança. Então, a memória dos acontecimentos ocorridos no período da ditadura para essas pessoas na década de 1990 era distinta das lembranças gravadas nesse documentário em 2009. Isso acontece não porque essas pessoas querem “mascarar” os acontecimentos e esconder a “verdade”. Isso ocorre porque a memória do ser humano é assim, inconstante, fugaz, transitória. Devido a essa característica, técnicas de pesquisa são utilizadas para escrever a história do período levando em consideração os depoimentos das pessoas, de maneira que o produto final esteja dentro dos métodos científicos que a ciência da história permite e aceita.

Os arquivos da cidade se referem a uma cidade em específico: Porto Alegre. Essa é mais uma característica que favorece a escolha desse documentário principalmente para quem leciona na própria cidade. É comum no ensino de história focar no Brasil. Sendo assim, algumas cidades mais “nacionais” são destacadas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília. Essa é uma oportunidade de destacar o que aconteceu aqui, na cidade dos alunos, destacando locais que eles conhecem porque já passaram por lá, como o Hospital Nossa Senhora da Conceição comentado no vídeo.

É interessante destacar Porto Alegre também devido a sua participação dentro do contexto de Ditadura Civil-Militar. Por ser a capital do estado do RS o aparelho burocrático e repressivo do governo ditatorial era centralizado aqui. Além disso, o estado do RS é fronteira da Argentina e Uruguai, favorecendo trocas de informações e prisioneiros, pela Operação Condor. Isso favorece em pensar a cidade como ponto estratégico do governo brasileiro, não como um lugar em que nada aconteceu ou como palco secundário, deslocando o foco para o Rio de Janeiro ou Brasília.

Documentário não é um gênero cinematográfico que os alunos estão acostumados. Entretanto esse em específico foi feliz em dois quesitos: por ter uma curta duração, favorecendo que professores com poucos períodos de aula semanais consigam exibi-lo em um período e porque são as pessoas que contam, de “cara limpa e peito aberto” suas histórias, incluindo o período da prisão e da tortura. Nada mais impactante que ouvir e ver uma pessoa contando o que ela passou, a empatia é muito mais forte. Isso prende a atenção dos discentes, mesmo os mais dorminhocos.


Para finalizar, destaco a questão do vocabulário da época. “Expropriação”, “Revolução”, “Clandestinidade”, são palavras que os depoentes falam e que favorecem tratar do contexto desse vocabulário na época. Só essas três já propiciam uma outra aula. Cair na clandestinidade era abandonar a sua identidade: largar emprego, família, casa, trocar de nome, mudar de cidade, fugir da polícia que estava procurando por você. Normalmente as pessoas ficavam em “aparelhos”, que eram casas ou apartamentos alugados para disfarçarem os clandestinos e proporcionarem lugares para as reuniões dos movimentos organizados. A “Revolução” era a revolução de esquerda, sendo o modelo cubano o mais pensado e desejado, com a tomada do poder e a transformação do Brasil em um país comunista. E “expropriação” eram roubos e assaltos cometidos pelos movimentos de esquerda organizados para arrecadarem dinheiro para a “Revolução”, financiarem armamentos e manterem seus integrantes na clandestinidade.

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