Para visualizar o documentário, clique nesse link: http://www.youtube.com/watch?v=nIIma7ZtSPY
Informações sobre o
documentário:
Diretores: Felipe Diniz e Luciana Knijnik
Ano: 2009
Depoimentos:
Antonio Losada;
Lino Brum Filho;
Carlos de Ré;
Gregório Mendonça;
Ignez Serpa Ramminger;
Bona Garcia.
Esse documentário proporciona uma
boa aula de história sobre a Ditadura Civil-Militar Brasileira. A começar pelo
nome “Arquivos da Cidade”: são seis pessoas, seis memórias, seis depoimentos,
seis arquivos de seis diferentes experiências de quem lutou contra a ditadura
em Porto Alegre. Os arquivos aqui não remetem a papeis e documentos antigos,
mas se referem a diferentes pessoas: estudantes, líderes sindicais, familiares
de desaparecidos, que viveram este período da história nacional e tem muito que
contar de suas vivências.
Antes de continuar o texto sobre
o documentário, uma ressalva teórica: memória não é história. Lembrar um evento
ocorrido anos atrás não quer dizer que se está escrevendo “A” história do
período. A memória é um mosaico que se faz e refaz a todo instante, dependendo
do momento em que é solicitada a lembrança. Então, a memória dos acontecimentos
ocorridos no período da ditadura para essas pessoas na década de 1990 era
distinta das lembranças gravadas nesse documentário em 2009. Isso acontece não
porque essas pessoas querem “mascarar” os acontecimentos e esconder a
“verdade”. Isso ocorre porque a memória do ser humano é assim, inconstante,
fugaz, transitória. Devido a essa característica, técnicas de pesquisa são
utilizadas para escrever a história do período levando em consideração os
depoimentos das pessoas, de maneira que o produto final esteja dentro dos
métodos científicos que a ciência da história permite e aceita.
Os arquivos da cidade se referem
a uma cidade em específico: Porto Alegre. Essa é mais uma característica que favorece
a escolha desse documentário principalmente para quem leciona na própria
cidade. É comum no ensino de história focar no Brasil. Sendo assim, algumas
cidades mais “nacionais” são destacadas, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília.
Essa é uma oportunidade de destacar o que aconteceu aqui, na cidade dos alunos,
destacando locais que eles conhecem porque já passaram por lá, como o Hospital
Nossa Senhora da Conceição comentado no vídeo.
É interessante destacar Porto
Alegre também devido a sua participação dentro do contexto de Ditadura
Civil-Militar. Por ser a capital do estado do RS o aparelho burocrático e
repressivo do governo ditatorial era centralizado aqui. Além disso, o estado do
RS é fronteira da Argentina e Uruguai, favorecendo trocas de informações e prisioneiros,
pela Operação Condor. Isso favorece em pensar a cidade como ponto estratégico
do governo brasileiro, não como um lugar em que nada aconteceu ou como palco
secundário, deslocando o foco para o Rio de Janeiro ou Brasília.
Documentário não é um gênero
cinematográfico que os alunos estão acostumados. Entretanto esse em específico
foi feliz em dois quesitos: por ter uma curta duração, favorecendo que professores
com poucos períodos de aula semanais consigam exibi-lo em um período e porque são
as pessoas que contam, de “cara limpa e peito aberto” suas histórias, incluindo
o período da prisão e da tortura. Nada mais impactante que ouvir e ver uma
pessoa contando o que ela passou, a empatia é muito mais forte. Isso prende a
atenção dos discentes, mesmo os mais dorminhocos.
Para finalizar, destaco a questão
do vocabulário da época. “Expropriação”, “Revolução”, “Clandestinidade”, são
palavras que os depoentes falam e que favorecem tratar do contexto desse
vocabulário na época. Só essas três já propiciam uma outra aula. Cair na
clandestinidade era abandonar a sua identidade: largar emprego, família, casa,
trocar de nome, mudar de cidade, fugir da polícia que estava procurando por você.
Normalmente as pessoas ficavam em “aparelhos”, que eram casas ou apartamentos
alugados para disfarçarem os clandestinos e proporcionarem lugares para as
reuniões dos movimentos organizados. A “Revolução” era a revolução de esquerda,
sendo o modelo cubano o mais pensado e desejado, com a tomada do poder e a
transformação do Brasil em um país comunista. E “expropriação” eram roubos e
assaltos cometidos pelos movimentos de esquerda organizados para arrecadarem
dinheiro para a “Revolução”, financiarem armamentos e manterem seus integrantes
na clandestinidade.
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