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23 de set. de 2011

O que você conhece sobre a história da África?


Durante muito tempo, considerou-se que a África não tinha história. O terceiro maior continente do mundo aparecia nos livros didáticos somente no capítulo sobre as grandes navegações europeias, como fornecedor de matérias-primas e escravos para outras regiões do planeta. Antes disso, não havia nada de histórico na África. Era como se a espécie humana surgisse no território africano, e em pouco tempo se espalhasse pelo planeta, conseguindo se desenvolver plenamente em outras regiões (e especialmente na Europa) que garantiram a sobrevivência da espécie humana e sua evolução até o domínio da terra e dos mares.
Essa visão de mundo imperial que a Europa tinha sobre si mesma e sobre a humanidade por muito tempo fez da África um extenso terreno, com plantas e animais diversos, propícios para um divertido safári. A África e seu povo estariam em uma escala evolutiva inferior e nada haveria nesse continente a não ser selvageria, barbárie e um povo incapaz de construir uma história. O detalhe é que os europeus percebiam o que acontecia na África com olhos de um europeu. Eles procuravam um Estado organizado, com um comandante, leis, um parlamento ou senado que votasse ou autorizasse o comandante a tomar as decisões e uma religião que respeitasse um deus somente, nascido de uma mulher com a ajuda de um espírito santo. Dessa forma, comparando o conhecido ao desconhecido, a África era um lugar completamente inferior, sem passado e nem cultura, portanto, não haveria história alguma nessa parte do planeta.
Outra questão relativa a esse olhar imperial era dividir o continente africano em dois: a África branca e a negra. Perto da Europa, ao redor do Mar Mediterrâneo, estaria a África Branca (Egito, Líbia, Marrocos, Argélia, Tunísia e Saara Ocidental) que não pertencia propriamente à África, pois nada mais era que a continuação da Espanha e da Europa ao redor do centro da historia universal, que era a região do Mediterrâneo. O deserto do Saara estaria logo abaixo dessa região e seria o responsável por separar a comunicação e o intercâmbio entre as duas Áfricas, preservando a parte branca. A África negra era aquela abaixo do deserto, sendo uma parte praticamente desconhecida e sem importância para o europeu.
Esse discurso vigorou por muito tempo e somente nos últimos anos está havendo um movimento de “quebra” desse olhar europeu sobre a África e uma valorização da história africana feita pelos africanos (nada melhor que o próprio habitante falar sobre sua região) e por quem deseja ressaltar uma história que não pode ser explicada pelo olhar do europeu. Diversos documentos foram relidos, como relatos de viajantes muçulmanos e europeus (traficantes de escravos, comerciantes, militares, administradores, exploradores e missionários), escavações arqueológicas foram realizadas e a tradição oral das etnias foi estudada para procurar quebrar com a ideia de “mundo vazio africano” e demonstrar que por muito tempo se esteve com uma postura errada ao se referir a essa parte do mundo e aos seus habitantes, que são diversos, com múltiplas línguas e culturas. O trabalho a ser feito é grande e muito interessante!


Referência: HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à Historia Contemporânea. São Paulo, Selo Negro, 2008.

Um comentário:

  1. Muito bom e bem dito,ou subscrito.Posso acrescentar para leitura demorada,os volumes da História Geral da África(8)disponibilizados nas páginas a seguir:
    http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/special-themes/ethnic-and-racial-relations-in-brazil/general-history-of-africa/
    http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.jsp
    Abraços.

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