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31 de out. de 2011

Hoje é dia de Drummond

Passagem ligeira no blog só para postar que hoje é dia de Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro, que nasceu em 31/10/1902 e faleceu em 17/08/1987.
Eu simplesmente adoro o Drummond!

Em sua homenagem, um de seus poemas declamados por ele mesmo:


Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


Inté!




20 de out. de 2011

Dica de filme: Capitães da Areia


Os livros de Jorge Amado povoaram minha adolescência. Adorava aquela Bahia de Jorge Amado, seus personagens, o candomblé, os malandros e suas Gabrielas. Eis que esse ano surge um filme nacional de um desses livros: Capitães da Areia.
Corri para o cinema e a impressão foi muito boa. Normalmente, a gente prefere o livro ao filme, porém, achei esse filme muito bem costurado dentro dos 90 minutos destinado à história.

E porquê esse post sobre um filme de um livro se o blog é de História?

A história se passa na Bahia, nos anos de 1930, e retrata o cotidiano de um grupo de meninos de rua, chamado Capitães da Areia, que percorrem as ruas da cidade. Desde procurar comida, desenhar, pedir esmolas até furtos e roubos, o cotidiano desses meninos os faz homens. Eles precisam se comportar como adultos, mesmo novos na idade, porque não pode ser ingênuo para viver nas ruas: é necessário negociar acordos, ser esperto para não ser trapaceado, roubar para conseguir um dinheiro, fumar como os outros, jogar cartas para conseguir ganhar as apostas (mesmo roubando) e transar (pois há desejo nesses meninos). Ao mesmo tempo, se encantam com o carrossel da cidade e quando conseguem andar nele voltam a serem crianças e misturam tudo: a maturidade necessária pelas suas condições de vida e o brincar que é tarefa de toda criança.
Portanto, é um romance ficcional, mas que merece atenção por tratar de um assunto ainda comum: crianças abandonadas que precisam “ganhar a vida” de alguma forma. Vivem como adultos, roubam, não vão à escola, andam perdidos pelas ruas da Bahia e quando o governo se preocupa com elas, é devido aos roubos. Solução? Prender, bater e trancafiar na cadeia, com muito serviço no canavial para os infratores.
Será que esses capitães preferiam morar em casa com uma família ou viver no trapiche? O que aconteceu para esses meninos ficarem sem lar? Fugiram ou perderam os pais, como a Dora? Prender e bater nesses “marginais” é o melhor caminho para “colocar na linha” esses meninos? A crítica que o Jorge Amado fez em 1937 perdeu sua validade ou ainda encontramos uns “capitães” pelas cidades brasileiras?

Muitas perguntas para um filme que mistura tudo: arte, literatura, história, romance, crítica social, Jorge Amado, Bahia,...

Vale a pena o ingresso!

Acesse algumas informações aqui (site do filme).

11 de out. de 2011

Durante o Renascimento a fé acaba?


Afresco da Capela Sistina, no Vaticano, pintado por Michelangelo Buonarrotti 
(1475 - 1564)

A característica mais importante do Renascimento é o antropocentrismo, que destaca o ser humano como o centro do universo, comandando seu destino no mundo concreto. Os humanistas valorizavam o desenvolvimento harmonioso do homem, argumentando que dessa forma ele estaria pronto para transformar o mundo de acordo com suas vontades e interesses. Essa visão de mundo contraria o teocentrismo medieval, em que Deus é o centro do universo, governando tudo e todos e definindo o destino de cada ser humano, que deveria ser submisso e aceitar sua condição na Terra, sem ter a capacidade de modificar sua situação.
Sendo assim, poderíamos afirmar que os renascentistas negavam a fé e confiavam unicamente no raciocínio lógico humano para explicar os fenômenos da natureza e da sociedade? Não podemos concordar com essa afirmação. Os humanistas não eram ateus e nem queriam restaurar a religião dos gregos ou romanos. Eles eram cristãos, porém não concordavam com algumas atitudes da Igreja e defendiam a reinterpretação dos escritos bíblicos a partir de valores da Antiguidade, como a exaltação da vontade e da capacidade de ação do homem, ou seja, a sua liberdade de atuação.
O homem era a grande obra divina, que conseguia construir o seu mundo, seu conhecimento e podia modificar sua realidade. A ajuda divina é bem-vinda, no entanto, o raciocínio e o conhecimento do homem na Terra possui uma grande importância para a sobrevivência humana e seu desenvolvimento. A contestação dos renascentistas com o teocentrismo e a cultura medieval não é centrada na questão da fé ou religiosidade cristã, porém na questão da doutrina católica que colocava o homem amarrado aos desígnios de Deus, sem capacidade de articulação e inteligência. Para os humanistas, o divino de cada homem é a sua possibilidade de intervenção sobre o mundo, sua força interior.
A religião não deveria ser esquecida, mas renovada. A Igreja como instituição era alvo de críticas devido a suas doutrinas e a questão da moral dos seus membros, que pregavam uma postura de simplicidade e piedade, mas na prática eram gananciosos, vendendo indulgências, explorando imagens e relíquias e vivendo diferentemente do que pregavam os Evangelhos. Erasmo de Rotterdam (1466 - 1536) foi um padre holandês que publicou um livro chamado “Elogio da Loucura” (1511) em que criticava essa postura da Igreja Católica e defendia que o cristianismo deveria se centrar na simplicidade da fé e na leitura dos textos do Evangelho, especialmente da vida de Cristo.
Portanto, a fé não acaba no Renascimento. O homem realmente ganha um papel de destaque, tornando-se ator de sua própria vida, decidindo racionalmente seu melhor caminho. No entanto, a fé em Deus continua e os humanistas não defendem o retorno ao paganismo ou ateísmo. O Renascimento é um processo histórico longo, que aos poucos vai modificando a forma de pensar e analisar o mundo. As críticas à Igreja tornam-se mais duras no século XVI, onde começam as rupturas da cristandade e reformas religiosas em diversos pontos da Europa.

Referência: SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo, Atual, 1994.

2 de out. de 2011

Se o Sol nasce no Leste e se põe no Oeste, é ele que gira ao redor da Terra?

Hoje em dia essa pergunta parece boba, um assunto mais que antigo, que já foi estudado por todos nós quando estávamos no ensino fundamental em plena aula de Geografia. Não, o Sol não gira ao redor da Terra, pelo contrário. O Sol é o centro do Sistema Solar e a Terra é somente um dos planetas que giram ao redor dessa estrela.
No entanto, esse tema foi motivo de grandes debates e disputas na época do Renascimento Europeu, movimento cultural que modificou a forma de conceber o universo e a sociedade. A questão de utilizar o raciocínio lógico para explicar a realidade e os fenômenos naturais promoveu o desenvolvimento de novas formas de explicar o mundo, avançando em determinados temas que depois seriam conhecidos como a Revolução Científica.
Um dos assuntos debatidos e estudados na época foi o modelo Heliocêntrico que se opôs ao então vigente modelo Geocêntrico. O modelo Geocêntrico defendia que a Terra era o centro do universo, e que todos os planetas e até o Sol orbitavam em torno dela, em círculos concêntricos, enquanto que ela permanecia parada. Quem defendia essa explicação eram os gregos Aristóteles e Ptolomeu, argumentando que caso a Terra se movesse, as nuvens, os pássaros no ar ou os objetos em queda livre seriam deixados para trás. Esse modelo explicativo era defendido pela Igreja Católica através de explicações bíblicas, nenhuma experimental, e foi o modelo vigente durante o período da Idade Média, refletindo a ordem e estabilidade da estrutura da sociedade.
Contudo, um polonês chamado Nicolau Copérnico (1473 - 1543) resolveu pensar um pouco mais sobre esse tema e desenvolveu outro modelo, chamado Heliocêntrico, em que o Sol seria o centro do universo e a Terra seria um dos vários planetas que giram ao redor do Sol. Dessa forma, a Terra deixa de ser o ponto central do universo, tornando-se apenas um dos seus vários elementos. Copérnico não chegou a provar sua teoria, porém abriu discussões para questões como a grandeza do universo e a queda dos corpos, já que a Terra deixava de ser o centro e o lugar natural de todas as coisas.
Quem levou adiante as ideias de Copérnico foi um homem chamado Galileu Galilei (1564 - 1642) que através do telescópio conseguiu confirmar o modelo Heliocêntrico. Os problemas que surgiram através desse modelo foram o deslocamento da Terra do centro do Universo e o abalo das estruturas da sociedade medieval, contrariando os escritos da Bíblia, retirando o ser humano do centro e dos olhos de Deus, ou seja, diminuindo sua submissão. Devido ao perigo desses novos conceitos, Galileu foi julgado pela Santa Inquisição (tribunal da Igreja que julgava e punia os hereges) duas vezes. Na primeira vez em que foi a julgamento, em 1616, ficou proibido de defender suas ideias, indo seus livros parar no Índex (conjunto de livros condenados pela Igreja). Na segunda vez, em 1633, ele teve que renunciar aos seus estudos para não ser queimado e foi condenado a prisão domiciliar até a morte.
A pergunta do título remete a um assunto que hoje se apresenta como banal, tópico de revista infantil de ciências. No entanto, foi elemento de disputa e grande debate, que levou vários anos para naturalizar-se e chegar até as aulas de Geografia da quinta série do ensino fundamental.

Referência: CATELLI JUNIOR, Roberto. História: texto e contexto: Ensino Médio. São Paulo, Scipione, 2006.