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11 de out. de 2011

Durante o Renascimento a fé acaba?


Afresco da Capela Sistina, no Vaticano, pintado por Michelangelo Buonarrotti 
(1475 - 1564)

A característica mais importante do Renascimento é o antropocentrismo, que destaca o ser humano como o centro do universo, comandando seu destino no mundo concreto. Os humanistas valorizavam o desenvolvimento harmonioso do homem, argumentando que dessa forma ele estaria pronto para transformar o mundo de acordo com suas vontades e interesses. Essa visão de mundo contraria o teocentrismo medieval, em que Deus é o centro do universo, governando tudo e todos e definindo o destino de cada ser humano, que deveria ser submisso e aceitar sua condição na Terra, sem ter a capacidade de modificar sua situação.
Sendo assim, poderíamos afirmar que os renascentistas negavam a fé e confiavam unicamente no raciocínio lógico humano para explicar os fenômenos da natureza e da sociedade? Não podemos concordar com essa afirmação. Os humanistas não eram ateus e nem queriam restaurar a religião dos gregos ou romanos. Eles eram cristãos, porém não concordavam com algumas atitudes da Igreja e defendiam a reinterpretação dos escritos bíblicos a partir de valores da Antiguidade, como a exaltação da vontade e da capacidade de ação do homem, ou seja, a sua liberdade de atuação.
O homem era a grande obra divina, que conseguia construir o seu mundo, seu conhecimento e podia modificar sua realidade. A ajuda divina é bem-vinda, no entanto, o raciocínio e o conhecimento do homem na Terra possui uma grande importância para a sobrevivência humana e seu desenvolvimento. A contestação dos renascentistas com o teocentrismo e a cultura medieval não é centrada na questão da fé ou religiosidade cristã, porém na questão da doutrina católica que colocava o homem amarrado aos desígnios de Deus, sem capacidade de articulação e inteligência. Para os humanistas, o divino de cada homem é a sua possibilidade de intervenção sobre o mundo, sua força interior.
A religião não deveria ser esquecida, mas renovada. A Igreja como instituição era alvo de críticas devido a suas doutrinas e a questão da moral dos seus membros, que pregavam uma postura de simplicidade e piedade, mas na prática eram gananciosos, vendendo indulgências, explorando imagens e relíquias e vivendo diferentemente do que pregavam os Evangelhos. Erasmo de Rotterdam (1466 - 1536) foi um padre holandês que publicou um livro chamado “Elogio da Loucura” (1511) em que criticava essa postura da Igreja Católica e defendia que o cristianismo deveria se centrar na simplicidade da fé e na leitura dos textos do Evangelho, especialmente da vida de Cristo.
Portanto, a fé não acaba no Renascimento. O homem realmente ganha um papel de destaque, tornando-se ator de sua própria vida, decidindo racionalmente seu melhor caminho. No entanto, a fé em Deus continua e os humanistas não defendem o retorno ao paganismo ou ateísmo. O Renascimento é um processo histórico longo, que aos poucos vai modificando a forma de pensar e analisar o mundo. As críticas à Igreja tornam-se mais duras no século XVI, onde começam as rupturas da cristandade e reformas religiosas em diversos pontos da Europa.

Referência: SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo, Atual, 1994.

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