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31 de dez. de 2011

Passado inglório: Ditadura Civil-Militar Brasileira

Olá pessoal!

Hoje o texto não é meu, é uma matéria online da Carta Capital sobre a Ditadura Civil-Militar Brasileira e suas consequências posteriores para a sociedade e o Estado brasileiro. O texto também aborda a questão da Comissão da Verdade, que foi aprovada recentemente para investigar os crimes ocorrido durante a Ditadura.

Eis a reportagem, retirada daqui:


À sombra da ditadura

Este será um ano lembrado, entre outras coisas, como aquele no qual o Brasil se viu assombrado por seu passado. Durante décadas, o País tudo fez para nada fazer no que se refere ao acerto de contas com os crimes contra a humanidade perpetrados pela ditadura. Isso o transformou em um pária do direito internacional, objeto de processos em cortes penais no exterior. Contrariamente a países como Argentina, Uruguai e Chile, o Brasil conseguiu a façanha de não julgar torturador algum, de continuar a ter desaparecidos políticos e de proteger aqueles que se serviram do aparato de Estado para sequestrar, estuprar, ocultar cadáveres e assassinar.
O Brasil não julgou seus torturadores e virou pária do direito internacional. Sua polícia é o reflexo. Foto: Domicio Pinheiro/AE
Nesse sentido, não é estranho que convivamos até hoje com um aparato policial que tortura mais do que se torturava na própria época da ditadura. Aparato completamente minado por milícias, grupos de extorsão e extermínio, assim como pela violência gratuita contra setores desfavorecidos da população. A brutalidade securitária continua a nos assombrar. Este é apenas um dos preços pagos por uma sociedade incapaz de dissociar-se dos crimes de seu passado recente.
Outro preço é o tema que mais assombra certos setores da classe média brasileira, a saber, a corrupção. Esquece-se muito facilmente como a ditadura foi um dos períodos de maior corrupção do Brasil. Basta lembrar-se de casos como Capemi, Coroa-Brastel, Lutfalla, Baum-garten, Tucuruí, Banco Econômico, Transamazônica, Ponte Rio-Niterói, entre tantos outros. Eles demonstram a consolidação de um modus operandi na relação entre Estado e empresariado nacional que herdamos da ditadura. Talvez não seja por acaso que boa parte dos casos de corrupção que assolam o País tenha participação de empresas que praticam negócios escusos desde a ditadura. Empresas que tiveram participação ativa, por exemplo, no financiamento da Operação Bandeirantes.
Corrupção e violência policial são apenas dois aspectos do que restou da ditadura. Poderíamos lembrar ainda do caráter imperfeito da democracia brasileira. Temos leis herdadas de períodos totalitários que se esconderam em nosso ordenamento jurídico. Ou seja, esperamos por uma reforma jurídica que racionalize nosso direito a partir de princípios gerais de liberdade social. Seria bom lembrar como temos uma lei constitucional que legaliza golpes militares. Basta lermos com calma o Artigo 142, no qual as Forças Armadas são descritas como “garantidoras dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Ou seja, basta, digamos, o presidente do Senado pedir a intervenção militar em garantia da lei (mas qual? sob qual interpretação?) e da ordem (social? moral? jurídica?) para que um golpe militar esteja legalizado constitucionalmente.
Diante desse cenário de desagregação normativa da vida social por causa da incapacidade da sociedade brasileira de elaborar seu passado, poderia esperar-se que a instalação de uma Comissão da Verdade servisse para iniciar um real processo de reconciliação nacional. Temos, porém, sólidas razões para -duvidarmos disso.
Leia mais:

Um dos pontos mais aberrantes da comissão é a indicação de que seus integrantes devam ser pessoas “isentas”. Uma piada de mau gosto. Há de se perguntar quem seria suficientemente amoral para ser isento diante de crimes contra a humanidade e atos bárbaros de violência estatal contra setores descontentes da população. Quem pode ser isento diante da informação de que integrantes do Exército, no combate à Guerrilha do Araguaia, jogavam camponeses de helicópteros e estupravam mulheres da região? Há algo de profundamente intolerável em pedidos de “isenção” nesse contexto.
Um dos exemplos pedagógicos de tal isenção pode ser encontrado no próprio dia de anúncio da criação da Comissão da Verdade. Diante da pressão dos militares, Vera Paiva, filha do deputado desaparecido Rubem Paiva, não pôde ler seu discurso, deixando os parentes de desaparecidos sem voz. Não poderia haver gesto mais simbólico e prenhe de significado. Não haverá voz para enunciar demandas de Justiça que não são apenas de familiares, mas de toda a sociedade brasileira.
Em crimes como os cometidos pela ditadura, não estamos a lidar com o sofrimento individual. Este é um erro cometido inclusive por setores de esquerda que querem “resolver tudo isso o mais rápido possível”. Eles compraram a ideia de que se trata apenas de encontrar reparação adequada para o sofrimento individual, seja por meio de compensações financeiras, seja por meio de anulação de atos que portaram prejuízo a um grupo reduzido de pessoas. Estamos, no entanto, lidando neste caso com um sofrimento social. Ou seja, toda a sociedade sofreu e ainda sofre por meio do “corpo torturável” desses indivíduos. Ela sabe que a violência estatal ainda paira como uma espada de Dâmocles por sobre nossas cabeças. Ela pode explodir de maneira a mais irracional, como um conteúdo recalcado que retorna lá de onde menos esperamos.
Por outro lado, é claro que tais demandas de “isenção” escondem o pior dos raciocínios, a saber, a defesa de que a violência de um Estado ilegal contra a população equivale à violência de setores da população contra o aparato repressivo do Estado. “Temos de julgar também os terroristas”, é o que dizem.
Aqui talvez seja o caso de se perguntar: Para que serve a verdade? Alguns acreditam que a verdade serve principalmente para reconciliar. Ou seja, sua enunciação forneceria o quadro de um reconhecimento dos danos ocasionados no passado. Tal reconhecimento, por mais simbólico que seja, teria a força de produzir conciliações e versões unificadas da história nacional.
A Comissão da Verdade só fará sentido se os crimes forem reconhecidos e seus responsáveis pedirem perdão. Até lá, casos como o policiamento agressivo de favelas serão temas comuns no Brasil. Foto: Fábio Motta/AE
Não creio que isso possa ocorrer. Sempre teremos leituras divergentes e irreconciliáveis do que foi a ditadura. Sempre haverá os que dirão que os militares nos salvaram da transformação do Brasil em uma ditadura comunista. Por isso, talvez seja o caso de dizer que a enunciação da verdade não serve para conciliar. Ela serve para romper. Ela rompe com o medonho exercício de desresponsabilização que foi colocado em marcha no Brasil. Rompe com a tentativa de colocar no mesmo patamar quem usurpa o poder e cria um Estado de medo e aqueles que se voltam contra tal situação. Desde o Evangelho sabemos isso: a verdade não tem o poder de unir. Ela tem a força de cortar.
É importante dizer isso porque corremos o risco de ver a Comissão da Verdade se transformar em uma macabra validação da famosa “teoria dos dois demônios”. Certamente haverá a tendência em colocar em circulação a necessidade de investigar os “crimes feitos pelos terroristas de esquerda”. Por isso creio ser mais que necessário perder o medo de dizer em alto e bom som: toda ação contra um governo ilegal é uma ação legal. Um Estado ilegal não pode julgar ações contra si por ser ele próprio algo mais próximo de uma associação criminosa. Esta era a situação brasileira.
Pois podemos dizer que dois princípios maiores fundam a experiência de modernização política que caracteriza a tradição da qual fazemos parte. O primeiro desses princípios afirma que um governo só é legítimo quando se funda sobre a vontade soberana de um povo- -livre. O segundo princípio afirma o direito à resistência. Mesmo a tradição política liberal admite, ao menos desde John Locke, o direito que todo cidadão tem de assassinar o tirano, de lutar de todas as formas contra aquele que usurpa o poder e impõe um Estado de terror, de censura, de suspensão das garantias de integridade social. Nessas situações, a democracia reconhece o direito à violência.
Costuma-se dizer que o direito à resistência não pode ser aplicado ao caso brasileiro já que a repressão caiu exclusivamente sobre os ombros de integrantes da luta armada que procuravam criar um governo comunista e totalitário no Brasil. Mas a afirmação é falsa. A repressão agiu contra toda forma de resistência, não só aquela da luta armada. O deputado Rubem Paiva, assim como vários sindicalistas e estudantes não faziam parte da luta armada e foram brutalmente mortos. Diz-se que estávamos em uma guerra e “efeitos colaterais” são produzidos. Mas, mesmo em situações de guerra, abusos são punidos.
Por outro lado, contrariamente ao que ocorreu na Argentina, os grupos de guerrilha apareceram no Brasil a partir do golpe militar, ou seja, se não houvesse ditadura não haveria grupos de guerrilha, a não ser focos isolados e completamente irrelevantes. É bom lembrar que boa parte daqueles que se engajaram na guerrilha tinha apenas uma vaga ideia do que queria, mas tinha uma ideia muito clara do que não queria. Lembre-se ainda que o direito à resistência não se anula pelo fato de defender outro regime de governo. Não por outra razão, líderes comunistas ainda são vistos como heróis da resistência na Europa.
Por essas razões, a única reconciliação possível ocorrerá quando aplicarmos no Brasil o que foi feito na África do Sul. O que queremos não é a cadeia para generais octogenários. Queremos que os responsáveis pelos crimes da ditadura peçam perdão, em sessão pública, diante dos familiares e torturados. Se o perdão é o gesto que reconcilia e apaga as feridas do passado, há de se lembrar que só pode haver perdão onde há reconhecimento do crime. Que a Comissão da Verdade não sirva para, mais uma vez, tentarem nos extorquir uma falsa reconciliação.

19 de dez. de 2011

Boas Festas!!!

Uma árvore de livros é o sonho de qualquer professor de História!

Olá pessoal!

Antes de mais nada, devo salientar que o blog passou de 300 acessos em meio ano de existência. Fiquei super contente, pois o blog surgiu despretensiosamente através dos meus textos para os estágios, além de outras atividades em que estou envolvida pelo curso de História. Espero que ano que vem ele cresça mais e eu consiga alimentá-lo com bons conteúdos.

Como todos devem imaginar, entrei de férias!!! Portanto, a produção de textos e materiais para o blog diminuirá, mas prometo que não o abandonarei nesse período de folga. Antes de março eu apareço por aqui!

Para finalizar, desejo um Feliz Natal e um ótimo 2012, com muitas histórias para contar! (piada mais que batida para quem é estudante de História! hehehe).

Inté!

7 de dez. de 2011

Dom João por aqui: mudanças em relação à colônia brasileira

1807: o impasse.

A situação de Dom João em 1807 não era das melhores: se fosse contra o Napoleão Bonaparte e ficasse do lado de sua aliada Inglaterra, seria invadido pelas tropas francesas que já estavam na Espanha e perderia o trono português. O que fazer diante disso? A saída encontrada foi muito inteligente: transferir toda a Corte para a colônia mais rica da época, o Brasil. Dessa forma, o Bloqueio Continental não seria aceito, a amizade entre a Inglaterra e Portugal não seria quebrada e a Coroa Portuguesa permaneceria com a família Bragança.

Quem seria a Corte?

A Corte é formada pela família real e todos os nobres portugueses que são importantes e possuem prestígio (admiração, valor social) com Dom João. Esses nobres poderiam ser funcionários do governo, como ministros, conselheiros reais, juízes, generais militares, comerciantes poderosos, alto clero (cardeais, arcebispos), etc.

Rio de Janeiro: centro das decisões políticas e econômicas do Governo Português. 

A novidade desse episódio da vinda da Corte Portuguesa é que o Brasil não seria mais uma simples colônia que precisava esperar as ordens de Lisboa. Como o príncipe regente Dom João e toda a Corte estavam aqui no Rio de Janeiro, Lisboa deixava de ser a capital do Governo Português e passava a receber ordens que vinham do Rio de Janeiro, onde o príncipe regente estava. O aparelho burocrático (onde todas as decisões sobre as colônias e a metrópole eram tomadas) foi transferido para o Brasil e qualquer decisão importante ficava nas mãos de Dom João e seus ministros, como acontecia em Lisboa.
O Brasil ainda era uma colônia portuguesa em 1808, porém começava a ter vantagens sobre as outras e inclusive sobre Portugal. Por exemplo: antes de 1808, quem tinha algum processo judicial importante precisava viajar três meses até Portugal para tentar resolver seus problemas. Isso custava muito dinheiro e tempo. Agora com o Governo Português por aqui, era mais fácil resolver problemas administrativos ou judiciais.
Além disso, os próprios moradores ricos do Rio de Janeiro conseguiam ganhar prestígio e vantagens com Dom João por aqui, pois podiam organizar um baile para convidar todos os nobres portugueses e o príncipe, conseguindo se aproximar de Dom João e pedir favores, como um emprego na administração ou um título de nobre (conde, barão, duque, etc.). Participar de eventos da Corte era novidade dentro de uma colônia, por isso era preciso aprender os costumes dos europeus: comer de garfo e faca, aprender a etiqueta em cerimônias, ostentar jóias e roupas luxuosas, etc.
Foi preciso uma reorganização no aparelho administrativo do Governo Português para criar muitas vagas de emprego para a Corte portuguesa que veio com Dom João e ainda abrir espaço para os que aqui moravam e queriam ter uma renda do governo. Com tantas pessoas dependendo do dinheiro de Dom João, os impostos aumentaram e um banco (Banco do Brasil) precisou ser criado para conseguir pagar os gastos, gerar mais dinheiro e sustentar tanto os portugueses como os colonos.

21 de nov. de 2011

Dia da Consciência Negra (2)

Olá pessoal!

Como o Dia da Consciência Negra nesse ano caiu em um domingo, aproveito essa semana também para escrever mais um pouco sobre esse tema. Como boa professora de História que pretendo ser, é mais do que necessário abordar a questão dos afrodescendentes na escola, se queremos que algumas atitudes mudem nesse país e que o preconceito racial diminua na sociedade.

Aproveitando as ferramentas da internet, posto um vídeo do youtube com a música Identidade, gravada pelo sambista Jorge Aragão:


A letra segue pelo vídeo, mas vou colocá-la aqui também (com alguns destaques feitos por mim):

Identidade
Jorge Aragão

Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade


Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

Se o preto de alma branca pra você
É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade

Elevador é quase um templo
Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...
Quem cede a vez não quer vitória
Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história


Agora um outro videozinho, de uma campanha contra o racismo:


Vocês viram que um simples local, como o elevador, pode ser símbolo de um preconceito e discriminação racial? 
Elevador de serviços é para as compras e para aqueles que estão trabalhando (entrega de rancho, carteiro, motorista, etc). Já o elevador social pertence aos moradores, portanto não é local para que entregadores e pessoas que estão trabalhando transitarem. A situação piora se o condomínio for bem localizado, na parte mais chique da cidade. Nesses locais, pessoas negras são caracterizadas como pobres, entregadores ou assaltantes, portanto merecem uma maior atenção da parte de segurança do prédio.

O racismo no Brasil é presente, mas de maneira sutil. Não há uma política de Estado que divida brancos e negros, porém há atitudes que demonstram a divisão social e racial das pessoas, como utilizar um simples elevador em um condomínio chique. "Mas ele pode estar aqui? Não deveria utilizar o de serviço?", a pergunta pode pairar no ar de maneira preconceituosa.

20 de nov. de 2011

Hoje, dia 20 de Novembro, é dia da Consciência Negra!



Por que escolheram essa data? No dia 20 de Novembro de 1695 morria Zumbi dos Palmares, figura histórica negra muito importante, pois foi um dos líderes do Quilombo dos Palmares, que se localizava na atual região do Alagoas.

Na época da escravidão no Brasil, quilombo era um local em que negros fugidos ou alforriados moravam e conviviam longe das regras da sociedade escravocrata. Normalmente, o quilombo ficava em um local escondido, ou de difícil localização, para dificultar o contato com outras pessoas e por em risco os escravos que lá estavam. O Quilombo dos Palmares foi um dos quilombos mais famosos, que durou muito tempo e abrigou muitos escravos. O último líder desse quilombo foi Zumbi dos Palmares.

Celebrar o 20 de Novembro como dia da Consciência Negra é procurar destacar o papel do negro na sociedade brasileira ao longo do tempo. É destacar a sua atuação de forma ativa na história do Brasil. Antes do dia 20 de Novembro, celebrava-se a Abolição da Escravatura (13/Maio/1888). Porém, a assinatura da Princesa Isabel dá a ideia de concessão: a liberdade dos negros escravos foi “concedida”, “dada” pela Princesa, não demonstrando a luta que os afrodescendentes tiveram ao longo do tempo pela liberdade.

Luta essa que não terminou: o preconceito racial está todos os dias em cada cidade desse Brasil. “Trabalho de Negro”, “Preto bandido”, “Neguinha atrevida”, e mais outras expressões que demonstram o preconceito de 300 anos de regime escravista. Sim, pessoal, não nascemos na época da escravidão, no entanto, não estamos livres de absorver preconceitos e pensamentos que estão pela sociedade e se reproduzem a cada dia.

Inté!

17 de nov. de 2011

Semana da Consciência Negra

Olá pessoal!

Semana mais que corrida, passada super rápida para destacar que é a Semana da Consciência Negra, já que 20 de novembro relembra Zumbi dos Palmares e não a Princesa Isabel.

Por enquanto fiquem com uma propaganda da Caixa Econômica Federal de 2009, sobre essa semana!
É linda!

Quando eu tiver mais tempo, falo sobre isso: a questão da escravidão e dos afrodescendentes.

 
Inté!

3 de nov. de 2011

Ditadura Civil-Militar no Brasil: o Bipartidarismo


Falar do período da Ditadura não é nada fácil. Primeiro, por que é uma história que está muito presente no país, apesar de ter começado em 1964. Segundo, por que ela ainda não “terminou”, o Estado brasileiro não reconhece que ocorreu uma ditadura, os arquivos não foram abertos e existem muitas pessoas que foram cruelmente torturadas, mortas e enterradas em qualquer lugar desconhecido (ou seja, continuam “desaparecidas” porque seus familiares não encontraram o corpo e não puderam velar seu familiar).

Enfim, o ponto a ser destacado nesse post é a questão do Bipartidarismo. Em 1965, um ano depois do golpe, foi decretado o AI-2 (Ato Institucional número 2) que entre outras demandas, excluía os partidos políticos anteriores ao golpe e criava somente dois: ARENA (Aliança Renovadora Nacional) e MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

A ARENA era o partido de situação, que apoiava a ditadura, e o MDB era o partido de oposição, sem muita atuação política. Não havia a possibilidade de haver oposição pelo simples motivo de que o comando do governo fechava o Congresso, baixava leis que prejudicavam os políticos do MDB, cassava mandatos, fazia o que era possível para manter a ordem e os rumos de acordo com as doutrinas e demandas dos militares comandantes da ditadura.

Somente em novembro de 1979, depois de quatorze anos de ARENA e MDB, o bipartidarismo é extinto e novos partidos são criados. Eu digo novos porque apesar das mesmas siglas de outrora, depois de quase uma década e meia de ditadura, tudo muda.

Deem uma olhada nos partidos que se formaram e da onde eles saíram:

Mas esses novos partidos ficam para um futuro post.

Inté!

31 de out. de 2011

Hoje é dia de Drummond

Passagem ligeira no blog só para postar que hoje é dia de Carlos Drummond de Andrade, poeta mineiro, que nasceu em 31/10/1902 e faleceu em 17/08/1987.
Eu simplesmente adoro o Drummond!

Em sua homenagem, um de seus poemas declamados por ele mesmo:


Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


Inté!




20 de out. de 2011

Dica de filme: Capitães da Areia


Os livros de Jorge Amado povoaram minha adolescência. Adorava aquela Bahia de Jorge Amado, seus personagens, o candomblé, os malandros e suas Gabrielas. Eis que esse ano surge um filme nacional de um desses livros: Capitães da Areia.
Corri para o cinema e a impressão foi muito boa. Normalmente, a gente prefere o livro ao filme, porém, achei esse filme muito bem costurado dentro dos 90 minutos destinado à história.

E porquê esse post sobre um filme de um livro se o blog é de História?

A história se passa na Bahia, nos anos de 1930, e retrata o cotidiano de um grupo de meninos de rua, chamado Capitães da Areia, que percorrem as ruas da cidade. Desde procurar comida, desenhar, pedir esmolas até furtos e roubos, o cotidiano desses meninos os faz homens. Eles precisam se comportar como adultos, mesmo novos na idade, porque não pode ser ingênuo para viver nas ruas: é necessário negociar acordos, ser esperto para não ser trapaceado, roubar para conseguir um dinheiro, fumar como os outros, jogar cartas para conseguir ganhar as apostas (mesmo roubando) e transar (pois há desejo nesses meninos). Ao mesmo tempo, se encantam com o carrossel da cidade e quando conseguem andar nele voltam a serem crianças e misturam tudo: a maturidade necessária pelas suas condições de vida e o brincar que é tarefa de toda criança.
Portanto, é um romance ficcional, mas que merece atenção por tratar de um assunto ainda comum: crianças abandonadas que precisam “ganhar a vida” de alguma forma. Vivem como adultos, roubam, não vão à escola, andam perdidos pelas ruas da Bahia e quando o governo se preocupa com elas, é devido aos roubos. Solução? Prender, bater e trancafiar na cadeia, com muito serviço no canavial para os infratores.
Será que esses capitães preferiam morar em casa com uma família ou viver no trapiche? O que aconteceu para esses meninos ficarem sem lar? Fugiram ou perderam os pais, como a Dora? Prender e bater nesses “marginais” é o melhor caminho para “colocar na linha” esses meninos? A crítica que o Jorge Amado fez em 1937 perdeu sua validade ou ainda encontramos uns “capitães” pelas cidades brasileiras?

Muitas perguntas para um filme que mistura tudo: arte, literatura, história, romance, crítica social, Jorge Amado, Bahia,...

Vale a pena o ingresso!

Acesse algumas informações aqui (site do filme).

11 de out. de 2011

Durante o Renascimento a fé acaba?


Afresco da Capela Sistina, no Vaticano, pintado por Michelangelo Buonarrotti 
(1475 - 1564)

A característica mais importante do Renascimento é o antropocentrismo, que destaca o ser humano como o centro do universo, comandando seu destino no mundo concreto. Os humanistas valorizavam o desenvolvimento harmonioso do homem, argumentando que dessa forma ele estaria pronto para transformar o mundo de acordo com suas vontades e interesses. Essa visão de mundo contraria o teocentrismo medieval, em que Deus é o centro do universo, governando tudo e todos e definindo o destino de cada ser humano, que deveria ser submisso e aceitar sua condição na Terra, sem ter a capacidade de modificar sua situação.
Sendo assim, poderíamos afirmar que os renascentistas negavam a fé e confiavam unicamente no raciocínio lógico humano para explicar os fenômenos da natureza e da sociedade? Não podemos concordar com essa afirmação. Os humanistas não eram ateus e nem queriam restaurar a religião dos gregos ou romanos. Eles eram cristãos, porém não concordavam com algumas atitudes da Igreja e defendiam a reinterpretação dos escritos bíblicos a partir de valores da Antiguidade, como a exaltação da vontade e da capacidade de ação do homem, ou seja, a sua liberdade de atuação.
O homem era a grande obra divina, que conseguia construir o seu mundo, seu conhecimento e podia modificar sua realidade. A ajuda divina é bem-vinda, no entanto, o raciocínio e o conhecimento do homem na Terra possui uma grande importância para a sobrevivência humana e seu desenvolvimento. A contestação dos renascentistas com o teocentrismo e a cultura medieval não é centrada na questão da fé ou religiosidade cristã, porém na questão da doutrina católica que colocava o homem amarrado aos desígnios de Deus, sem capacidade de articulação e inteligência. Para os humanistas, o divino de cada homem é a sua possibilidade de intervenção sobre o mundo, sua força interior.
A religião não deveria ser esquecida, mas renovada. A Igreja como instituição era alvo de críticas devido a suas doutrinas e a questão da moral dos seus membros, que pregavam uma postura de simplicidade e piedade, mas na prática eram gananciosos, vendendo indulgências, explorando imagens e relíquias e vivendo diferentemente do que pregavam os Evangelhos. Erasmo de Rotterdam (1466 - 1536) foi um padre holandês que publicou um livro chamado “Elogio da Loucura” (1511) em que criticava essa postura da Igreja Católica e defendia que o cristianismo deveria se centrar na simplicidade da fé e na leitura dos textos do Evangelho, especialmente da vida de Cristo.
Portanto, a fé não acaba no Renascimento. O homem realmente ganha um papel de destaque, tornando-se ator de sua própria vida, decidindo racionalmente seu melhor caminho. No entanto, a fé em Deus continua e os humanistas não defendem o retorno ao paganismo ou ateísmo. O Renascimento é um processo histórico longo, que aos poucos vai modificando a forma de pensar e analisar o mundo. As críticas à Igreja tornam-se mais duras no século XVI, onde começam as rupturas da cristandade e reformas religiosas em diversos pontos da Europa.

Referência: SEVCENKO, Nicolau. O Renascimento. São Paulo, Atual, 1994.

2 de out. de 2011

Se o Sol nasce no Leste e se põe no Oeste, é ele que gira ao redor da Terra?

Hoje em dia essa pergunta parece boba, um assunto mais que antigo, que já foi estudado por todos nós quando estávamos no ensino fundamental em plena aula de Geografia. Não, o Sol não gira ao redor da Terra, pelo contrário. O Sol é o centro do Sistema Solar e a Terra é somente um dos planetas que giram ao redor dessa estrela.
No entanto, esse tema foi motivo de grandes debates e disputas na época do Renascimento Europeu, movimento cultural que modificou a forma de conceber o universo e a sociedade. A questão de utilizar o raciocínio lógico para explicar a realidade e os fenômenos naturais promoveu o desenvolvimento de novas formas de explicar o mundo, avançando em determinados temas que depois seriam conhecidos como a Revolução Científica.
Um dos assuntos debatidos e estudados na época foi o modelo Heliocêntrico que se opôs ao então vigente modelo Geocêntrico. O modelo Geocêntrico defendia que a Terra era o centro do universo, e que todos os planetas e até o Sol orbitavam em torno dela, em círculos concêntricos, enquanto que ela permanecia parada. Quem defendia essa explicação eram os gregos Aristóteles e Ptolomeu, argumentando que caso a Terra se movesse, as nuvens, os pássaros no ar ou os objetos em queda livre seriam deixados para trás. Esse modelo explicativo era defendido pela Igreja Católica através de explicações bíblicas, nenhuma experimental, e foi o modelo vigente durante o período da Idade Média, refletindo a ordem e estabilidade da estrutura da sociedade.
Contudo, um polonês chamado Nicolau Copérnico (1473 - 1543) resolveu pensar um pouco mais sobre esse tema e desenvolveu outro modelo, chamado Heliocêntrico, em que o Sol seria o centro do universo e a Terra seria um dos vários planetas que giram ao redor do Sol. Dessa forma, a Terra deixa de ser o ponto central do universo, tornando-se apenas um dos seus vários elementos. Copérnico não chegou a provar sua teoria, porém abriu discussões para questões como a grandeza do universo e a queda dos corpos, já que a Terra deixava de ser o centro e o lugar natural de todas as coisas.
Quem levou adiante as ideias de Copérnico foi um homem chamado Galileu Galilei (1564 - 1642) que através do telescópio conseguiu confirmar o modelo Heliocêntrico. Os problemas que surgiram através desse modelo foram o deslocamento da Terra do centro do Universo e o abalo das estruturas da sociedade medieval, contrariando os escritos da Bíblia, retirando o ser humano do centro e dos olhos de Deus, ou seja, diminuindo sua submissão. Devido ao perigo desses novos conceitos, Galileu foi julgado pela Santa Inquisição (tribunal da Igreja que julgava e punia os hereges) duas vezes. Na primeira vez em que foi a julgamento, em 1616, ficou proibido de defender suas ideias, indo seus livros parar no Índex (conjunto de livros condenados pela Igreja). Na segunda vez, em 1633, ele teve que renunciar aos seus estudos para não ser queimado e foi condenado a prisão domiciliar até a morte.
A pergunta do título remete a um assunto que hoje se apresenta como banal, tópico de revista infantil de ciências. No entanto, foi elemento de disputa e grande debate, que levou vários anos para naturalizar-se e chegar até as aulas de Geografia da quinta série do ensino fundamental.

Referência: CATELLI JUNIOR, Roberto. História: texto e contexto: Ensino Médio. São Paulo, Scipione, 2006.


23 de set. de 2011

O que você conhece sobre a história da África?


Durante muito tempo, considerou-se que a África não tinha história. O terceiro maior continente do mundo aparecia nos livros didáticos somente no capítulo sobre as grandes navegações europeias, como fornecedor de matérias-primas e escravos para outras regiões do planeta. Antes disso, não havia nada de histórico na África. Era como se a espécie humana surgisse no território africano, e em pouco tempo se espalhasse pelo planeta, conseguindo se desenvolver plenamente em outras regiões (e especialmente na Europa) que garantiram a sobrevivência da espécie humana e sua evolução até o domínio da terra e dos mares.
Essa visão de mundo imperial que a Europa tinha sobre si mesma e sobre a humanidade por muito tempo fez da África um extenso terreno, com plantas e animais diversos, propícios para um divertido safári. A África e seu povo estariam em uma escala evolutiva inferior e nada haveria nesse continente a não ser selvageria, barbárie e um povo incapaz de construir uma história. O detalhe é que os europeus percebiam o que acontecia na África com olhos de um europeu. Eles procuravam um Estado organizado, com um comandante, leis, um parlamento ou senado que votasse ou autorizasse o comandante a tomar as decisões e uma religião que respeitasse um deus somente, nascido de uma mulher com a ajuda de um espírito santo. Dessa forma, comparando o conhecido ao desconhecido, a África era um lugar completamente inferior, sem passado e nem cultura, portanto, não haveria história alguma nessa parte do planeta.
Outra questão relativa a esse olhar imperial era dividir o continente africano em dois: a África branca e a negra. Perto da Europa, ao redor do Mar Mediterrâneo, estaria a África Branca (Egito, Líbia, Marrocos, Argélia, Tunísia e Saara Ocidental) que não pertencia propriamente à África, pois nada mais era que a continuação da Espanha e da Europa ao redor do centro da historia universal, que era a região do Mediterrâneo. O deserto do Saara estaria logo abaixo dessa região e seria o responsável por separar a comunicação e o intercâmbio entre as duas Áfricas, preservando a parte branca. A África negra era aquela abaixo do deserto, sendo uma parte praticamente desconhecida e sem importância para o europeu.
Esse discurso vigorou por muito tempo e somente nos últimos anos está havendo um movimento de “quebra” desse olhar europeu sobre a África e uma valorização da história africana feita pelos africanos (nada melhor que o próprio habitante falar sobre sua região) e por quem deseja ressaltar uma história que não pode ser explicada pelo olhar do europeu. Diversos documentos foram relidos, como relatos de viajantes muçulmanos e europeus (traficantes de escravos, comerciantes, militares, administradores, exploradores e missionários), escavações arqueológicas foram realizadas e a tradição oral das etnias foi estudada para procurar quebrar com a ideia de “mundo vazio africano” e demonstrar que por muito tempo se esteve com uma postura errada ao se referir a essa parte do mundo e aos seus habitantes, que são diversos, com múltiplas línguas e culturas. O trabalho a ser feito é grande e muito interessante!


Referência: HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à Historia Contemporânea. São Paulo, Selo Negro, 2008.

18 de set. de 2011

Independência ou Morte!

Esse post continua sendo dos meus achados para o estágio. Com a indicação do meu professor orientador do estágio, encontrei um trecho do filme brasileiro “Independência ou Morte”, de 1972, com o Tarcísio Meira no papel de Dom Pedro.
Em 1972, a independência do Brasil completava 150 anos (1822). Além disso, estávamos em plena ditadura civil-militar no Brasil, ou seja, produzir um filme que retratasse a formação do Estado, com um Dom Pedro defendendo a pátria brasileira contra os portugueses que desejavam recolonizá-la, era uma bela propaganda para o Estado brasileiro e, de forma direta, para o governo vigente que valorizava os símbolos nacionais, como a bandeira ou o hino nacional.
O trecho que eu encontrei mostra a “cena histórica” do grito do Ipiranga e a coroação de Dom Pedro I. As cenas foram copiadas de quadros famosos do Pedro Américo e do Debret. Acredito que o importante era ser o mais fiel possível à história oficial, aos quadros e as datas, buscando retratar (na medida do possível) o que realmente aconteceu naquele dia.

Segue o trecho do filme:

E os quadros que aparecem nessas cenas:

Debret – Coroação de Dom Pedro I (pintado por volta de 1828)

Pedro Américo – Independência ou Morte (1888)


Inté!

11 de set. de 2011

Onze de Setembro

Precisamente hoje, 11/09/2011, completam-se dez anos do atentado aos EUA, em que as torres gêmeas do WTC, em Nova York, caíram atacadas por aviões. Além disso, havia aviões sequestrados direcionados ao Pentágono e a Casa Branca.
Muita coisa mudou a partir disso: a política dos estadunidenses foi rígida, controlando a segurança dos aeroportos, a questão dos imigrantes e gerando um grande pânico na população. Outro detalhe: o Afeganistão foi invadido para se buscar aquele que organizou o ataque, e Osama Bin Laden ficou sendo o terrorista número um e o homem mais procurado do mundo. Dizem os EUA que ele foi capturado e morto esse ano, mas imagens do corpo não foram mostradas.
Outro país invadido foi o Iraque, em que o velho amigo Saddam Hussein foi capturado e enforcado. Coincidência ou não, os dois países invadidos são ricos em petróleo, matéria-prima não renovável e que rende muito dinheiro.

Mas isso a maioria das pessoas com mais de 20 anos conhecem.

O que eu quero relembrar, nessa data, é outro onze de setembro: 11/09/1973. Aconteceu no Chile um atentado que derrubou o governo de Salvador Allende e instaurou a ditadura militar do General Pinochet. O golpe foi patrocinado pelos EUA para evitar que o Chile se tornasse comunista, devido às reformas que Allende estava implantando no país. Não podemos esquecer que essa época a Guerra Fria estava em pleno vapor e havia o medo por parte dos EUA de uma esquerdização nas Américas, devido a Cuba e a União Soviética.
Qual a solução encontrada? Patrocinar ditaduras militares que controlassem os comunistas em cada país e se orientasse de acordo com as políticas neoliberais, ou seja, capitalistas da melhor forma!
Não foi só o Chile, foi a América toda. Para relembrar: em 1973 a ditadura brasileira completava 9 anos e também teve o apoio dos EUA para sua implantação.


Para relembrar esses dois acontecimentos na mesma data e a participação dos EUA (como atacantes e atacados), um vídeo muito interessante:





Inté!

6 de set. de 2011

Amanhã é feriado! De que mesmo?

Amanhã é sete de setembro. Há 189 anos, Dom Pedro organizava a independência do Brasil, que deixava ser colônia de Portugal e se tornava um país independente. Escrevendo dessa forma, fica tudo muito bonito, mas vamos contextualizar mais um pouco.
Desde 1808, quando a família real de Portugal por aqui chegou, fugindo das tropas do Napoleão, o Brasil mudou. Instituições foram criadas, os portos foram abertos a outras nações para realizar comércio por aqui, um príncipe regente morava pela primeira vez em uma colônia e todo um aparato de corte e antigo regime por aqui ficou e se adaptou aos trópicos.
Em 1821, Dom João VI retorna para Portugal deixando seu filho e uma colônia que não era mais colônia, mas um Reino Unido a Portugal. Por mais que os portugueses que pela Europa ficaram quisessem recolonizar o Brasil, a situação não poderia voltar ao que era antes de 1808. No entanto, quem arquitetou a independência foi um português, filho da família real de Portugal e não muito vinculado com o povo. Nossa independência não foi popular, não foi feita pelas pessoas daqui e não tem um herói que se sacrificou em honra  à Pátria. Como se sentir brasileiro dentro dessa situação?
A população observou tudo à margem, como se assistisse um teatro a céu aberto. No quadro, destacamos o canto esquerdo, com trabalhadores rurais, pessoas comuns do povo. Observem suas posturas e rostos (clique na imagem para ampliá-la):

Quadro "Independência ou Morte", de Pedro Américo, pintado por volta de 1888. Isso mesmo, uns 60 anos depois do ocorrido.


22 de ago. de 2011

Debret: olhar francês sobre o Brasil


Jean Baptiste Debret nasceu em Paris, em 1768, e viveu 48 anos pela França e Europa, estudando obras de arte, frequentando ateliês de artistas famosos e conseguindo prestígio junto com o Imperador Napoleão Bonaparte através das pinturas de suas vitórias sobre os outros reis da Europa. No entanto, por volta de 1815 a situação não estava favorável aos amigos de Napoleão: o Imperador foi derrotado, as monarquias da Europa estavam reassumindo seus tronos e quem era favorável ao governo de Napoleão agora era visto com reservas. O que fazer diante dessa situação?
Muitos artistas estavam procurando outras cortes para trabalhar e viver. Eis que um embaixador português propôs a um grupo de artistas franceses que viessem até o Brasil embelezar a colônia, construir grandes obras e trazer um pouco de “cultura” européia para os trópicos. Em 1816, oito anos depois da Corte Portuguesa chegar no Brasil, desembarcou no Rio de Janeiro uma missão de artistas franceses, com arquiteto, escultor, gravador, mecânico, ferreiro, serralheiro, carpinteiro, pintores e músicos. Entre eles estava Debret, encarregado de ser o “pintor histórico”: aquele que retrataria a família real e os acontecimentos mais importantes da Corte enquanto estivesse na colônia brasileira.
Debret ficou no Brasil por quinze anos (1816-1831) e durante esse tempo pode acompanhar as transformações da colônia, que abrigava a Corte Portuguesa que havia fugido de Napoleão, para o Reino Unido e logo depois o surgimento de um Império independente. Além das pinturas da família real, ele teve tempo suficiente para andar pelo Rio de Janeiro e se impressionar com o cotidiano da capital. Suas telas ficaram muito conhecidas e são consideradas quase fotografias da primeira metade do século XIX.
Não podemos esquecer que as telas de Debret não são “fotografias verdadeiras” do que acontecia em 1820. São impressões de um francês que viveu muito tempo na Europa, com uma formação artística muito forte da Academia Francesa, e que por questões políticas se mudou para uma colônia portuguesa. A natureza, os escravos, a comida, as frutas, as festas, as procissões, os hábitos dos moradores, o comércio, o cotidiano completamente diferente de Paris devem ter deixado o artista muito impressionado. A questão da escravidão é muito presente, principalmente porque na França de sua época não existiam mais escravos e no Rio de Janeiro, onde permaneceu a maior parte do tempo, a maioria da população era escrava. Ou seja, para qualquer lugar que se andasse pelo Rio de Janeiro (capital da colônia) se veria escravos trabalhando no porto, vendendo comida, acompanhando seus senhores, indo na igreja, sendo punido, etc.
Em 1831, Debret decide voltar à França aos 63 anos. Todas as suas pinturas e suas anotações sobre o Brasil foram publicadas em três volumes, entre 1834 e 1839, intitulados “Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil”. Na época foi um fracasso de vendas na França, mas ainda no século XIX suas imagens sobre o Brasil se popularizaram e hoje são fontes para se estudar essa época da história brasileira.


Inté!

19 de ago. de 2011

Dicas de HQ

Continuando minha busca de materiais para trabalhar no meu estágio no ensino fundamental, eis que descubro um blog com diversas histórias em quadrinhos: http://bibliotecahqmontreal.blogspot.com/

É uma boa oportunidade de leitura de diferentes histórias, tanto de literatura mundial, brasileira, eventos históricos, Asterix, Tintim, Turma da Mônica ou personagens da Disney.
Encontrei a revista em quadrinho que deu origem ao seriado do Canal Futura que postei anteriormente: http://djoaocarioca.blogspot.com/

Puxando a brasa pra minha busca, há material da independência e do artista francês Debret.

Amei!!!

Inté!

12 de ago. de 2011

Vinda da Família Real Portuguesa em desenho!

Procurando material para meu estágio, cujo assunto será a vinda da Família Real Portuguesa para o Brasil e as mudanças que ocorreram até a Independência, eis que me deparo com um super desenho animado do assunto feito pelo Canal Futura e dividido em doze episódios, chamado "Dom João no Brasil". Não postarei todos os episódios aqui, mas fica de aperitivo o primeiro capítulo produzido com alta qualidade, tanto de conteúdo como de imagem.


Inté!

25 de jul. de 2011

Atentado na Noruega: contra o multiculturalismo

Não tem como não saber o que aconteceu nessa semana no até então pacato país chamado Noruega. Eis que um terrorista do próprio país, Anders Behring Breivik, matou 76 pessoas que estavam acampando em uma ilha e explodiu, no mesmo dia e quase na mesma hora, um carro-bomba na frente da sede do governo norueguês. Para saber mais clique aqui, aqui e aqui.
O assassino é contra o multiculturalismo, os muçulmanos e a diversidade racial dentro da Europa. A questão desse post é sobre o significado dessas palavras: multiculturalismo, raça, muçulmano. O que quer dizer tudo isso?
Para início de conversa, essas palavras não são fáceis de se definir. Há muitos trabalhos acadêmicos que tratam desses conceitos de diversas formas. Como o blog é para ser usado em aula, portanto não deve ser muito longo, vamos falar um pouquinho sobre isso.

  • Multiculturalismo: diversas culturas convivendo em um determinado território, pode ser um país ou só uma região mesmo. Mas o que é cultura? De maneira resumida, a forma de um grupo ver, entender e interagir no mundo. Exemplo: os descendentes de italianos do RS têm a cultura de comer polenta, falar o dialeto italiano, beber vinho, ir à missa da igreja católica, rezar bastante, ter sempre uma nona que faz comidas boas, jogar baralho, enquanto que os descendentes de alemães também do RS têm a cultura de beber cerveja, ir à missa da igreja protestante, comer carne de porco, falar o dialeto alemão, dançar ao som de bandinhas, etc. Os dois grupos, alemães e italianos, convivem no estado do RS, mas seus costumes são diferentes.
  • Raça: palavrinha que foi muito complicada ao longo da História. A ideia que muito foi defendida e é COMPLETAMENTE ULTRAPASSADA é que existiam três raças no mundo: branca, negra e amarela, cada uma com características genéticas distintas. Ou seja, era tudo uma questão de biologia, com características que eram passadas pelo sangue, uma herança genética. A raça negra era considerada preguiçosa, portanto qualquer pessoa negra era considerada inferior, preguiçoso e muitas vezes ladrão, enquanto a branca era superior e deveria guiar e mandar em todas as outras. Repetindo: completamente ultrapassada, errada e gerou muitos problemas ao longo do tempo e ainda gera, como esse maluco terrorista norueguês.
  • Muçulmano: pessoa que acredita em Alá (Deus) e segue a religião islâmica. Não é sinônimo de terrorista, nem palavrão. Assim como existem católicos, espíritas, umbandas, há muçulmanos, outra forma de acreditar em Deus e uma religião que não prega o ódio e muito menos ataques terroristas.


O norueguês é contra tudo isso, defende uma Europa para uma raça superior, que é a branca, contra a entrada de qualquer outra cultura que possa estragar essa perfeição que ele defende. Por isso ele planejou os ataques e matou tanta gente do seu próprio país. Por quê? Porque ele não aceita a diferença, não sabe conviver com pessoas com costumes diferentes. Agora me explica: não é mais fácil conviver dentro de uma região em que todos se respeitam? É necessário que todos sejam iguais, tenham as mesmas experiências, tenham a mesma cor de cabelo? Conviver com culturas diferentes é aprender outras formas de ver o mundo, é aprender a ter respeito, é ter a liberdade de estranhar alguma coisa que nunca foi vista, mas é questão de respeitar os costumes e os estranhamentos de cada um. Aprendemos mais com o próximo, quando o próximo é diferente. Continuando com o exemplo que eu dei: se os italianos que chegaram no RS direto da Itália não aprendessem com os índios (outra cultura, outro grupo, outra língua, outra religião) a comer pinhão e aipim, com certeza morreriam de fome, porque trigo e uva por aqui não tinha.


Pense nisso!

Inté!